sexta-feira, 5 de maio de 2023

Gigantes de auditoria acumulam escândalos, e cresce pressão por mudanças

As auditorias independentes estão sob pressão após escândalos empresariais recentes, que geraram prejuízos a investidores em diversos países, inclusive no Brasil. As críticas ao setor incluem concentração de mercado, conflito de interesses e fiscalização falha. No centro da discussão, estão quatro empresas que dominam o mercado no Brasil e no mundo: PwC, KPMG, EY e Deloitte. A KPMG disse que "preza pela transparência". As outras não comentaram.


Quais foram os escândalos

O rombo bilionário nas Americanas não foi apontado pela PwC. As Americanas esconderam ao menos R$ 20 bilhões em dívidas dos balanços divulgados ao mercado. O rombo da varejista brasileira veio à tona em janeiro deste ano e não foi apontado nos relatórios da PwC, que auditava a empresa desde 2019. A responsabilidade da PwC está sob investigação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e é alvo de processos na Justiça. A varejista instaurou comitê interno para investigar o caso.

O caso se soma a outros escândalos de empresas auditadas pela PwC no Brasil. A PwC também auditou os balanços da resseguradora IRB Brasil, que teve que reapresentar seus números em 2020 após a descoberta de fraudes contábeis. Investidores do IRB processam a PwC pelos prejuízos. Após investigação interna, o IRB admitiu que houve fraude. A PwC também era a responsável por auditar os balanços da Petrobras entre 2012 e 2014, mas não achou indícios de lavagem de dinheiro investigados na Operação Lava Jato. A PwC foi absolvida pela CVM no caso da Petrobras.

O dinheiro que "sumiu" da fintech Wirecard não apareceu nos relatórios da EY. A fintech alemã Wirecard quebrou em 2020, depois de admitir que cerca de 1,9 bilhão de euros que apareciam em seus balanços na realidade não existiam. A Wirecard teve seus balanços auditados pela EY entre 2016 e 2018, mas a auditoria não apontou a fraude. No início de abril, a EY foi proibida de fechar contrato com empresas de interesse público na Alemanha durante dois anos e recebeu multa de 500 mil euros. Markus Braun, ex-CEO da Wirecard, negou as acusações de fraude durante seu julgamento.

Três bancos que quebraram nos Estados Unidos eram auditados pela KPMG. De março até agora, três bancos quebraram nos Estados Unidos: o Sillicon Valey Bank (SVB), até então o 16º maior banco do país, o Signature Bank, que em 2022 tinha ativos totais na casa dos R$ 110 bilhões, e o First Republic Bank, focado no público de alta renda e que acabou comprado pelo JPMorgan após intervenção. Os três eram auditados pela KPMG, que havia atestado a saúde financeira deles.

A responsabilidade da KPMG está sob investigação. Os presidentes do Signature e do First Republic fizeram carreira na KPMG, que tem forte atuação no setor bancário. A KPMG auditava o SVB há 28 anos e o Signature há 22, o que é considerado um problema. A empresa disse que não é responsável por fatos ocorridos após a conclusão de uma auditoria.

Relatórios falsificados da Gol levaram a multa milionária para a Deloitte. Em 2016, a subsidiária brasileira da Deloitte foi multada em US$ 8 milhões pela agência norte-americana que regulamenta o setor por falsificar relatórios de auditoria da empresa aérea Gol relativos a 2010. Na época, a fraude foi considerada a mais grave já encontrada pela agência dos Estados Unidos. A Gol disse que não havia indícios de que o caso gerasse benefício à empresa ou impactos em suas demonstrações financeiras.

Como funcionam as auditorias

A auditoria independente feita de acordo com as regras dá credibilidade aos balanços financeiros. O papel de uma auditoria independente é analisar os números e a atividade da empresa para dizer se as demonstrações contábeis apresentadas estão de acordo com sua realidade financeira e patrimonial. Com isso, investidores e outros agentes do mercado entendem que aquele balanço é, em tese, confiável.

As investigações buscam entender o papel das auditorias nos casos. A intenção é saber se a auditoria foi feita corretamente, mas não encontrou os problemas, se ocorreram erros na condução da auditoria ou se os auditores não reportaram o problema de forma deliberada.

O trabalho é feito por amostragem. Um ponto que torna possível que os auditores não encontrem uma fraude ou um erro nos números é o fato de o trabalho de auditoria --ainda que minucioso-- ser realizado por amostragem. Ou seja, não são analisadas todas as notas fiscais ou movimentações financeiras da empresa.

As fraudes deliberadas são difíceis de encontrar. Uma fraude deliberada, na qual agentes da empresa têm a intenção de esconder algo do balanço, é bem mais difícil de encontrar do que um erro contábil feito sem intenção.

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