sexta-feira, 16 de março de 2012

Desoneração da folha é necessária para indústria, mas paliativa, diz Ipea

Na visão dos pesquisadores do Ipea, serão necessários mais movimentos da equipe econômica para recuperar as perdas na indústria da transformação no País

 
Daniela Amorim, da Agência Estado

RIO - As medidas de desoneração da folha de pagamento que estão em discussão hoje pelo ministro da Fazenda Guido Mantega - para setores como têxtil, moveleiro, autopeças e aeroespacial - são necessárias, mas paliativas, e não resolvem o problema da desindustrialização no Brasil, na avaliação de Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

"São medidas na direção correta, mas paliativas, diante de um problema maior que é não ter uma taxa de câmbio ideal. Isso gera resultados importantes a curto prazo. Resolve temporariamente, mas não soluciona o problema", afirmou Messenberg.

Na visão dos pesquisadores do Ipea, serão necessários mais movimentos da equipe econômica para recuperar as perdas na indústria da transformação no País.

"São medidas paliativas, mas isso não é pejorativo, quer dizer simplesmente que são importantes, mas não suficientes para resolver o problema. Claro que serão necessárias muitas outras medidas, será necessário um projeto nacional", completou Fernando Mattos, pesquisador do instituto, durante a apresentação da 18ª edição do Boletim Conjuntura em Foco do Ipea.

Entre as medidas defendidas por Messenberg estão os investimentos em infraestrutura e incentivos como a redução no custo com energia. "É isso (a redução na tarifa de energia), é investimento em infraestrutura também, que é uma maneira de mexer na estrutura da rentabilidade industrial sem mexer na taxa de câmbio", avaliou o coordenador do Ipea.

Desindustrialização 

A perda de participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro significa uma desindustrialização precoce da economia, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou hoje a 18ª edição do Boletim Conjuntura em Foco. O fenômeno não pode ser considerado uma evolução natural, como a que aconteceu nos países desenvolvidos, porque não foi acompanhado de um aumento considerável na renda per capita.

"É preciso destacar os processos diferentes que aconteceram em economias avançadas e na economia brasileira, embora ambos tenham levado a uma redução da participação da indústria na economia e do emprego na indústria. Essa perda começa a acontecer justamente quando essas economias se defrontam com um nível de renda elevadíssimo, incomparavelmente mais elevado do que o nível de renda per capita no Brasil", explicou Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea.

Messenberg ressaltou que, assim como ocorreu nas economias desenvolvidas, a expansão industrial gera ganhos de produtividade que acabam se espalhando para outros setores da economia, que passam a se desenvolver também, aumentando a sua participação relativa no PIB gradualmente.

"Só que no Brasil esse processo tem características mais especificas. A perda de participação da indústria no PIB foi a partir dos anos 70, de forma abrupta, sem que a gente atingisse um patamar de renda per capita elevada", contou Renata Silva, pesquisadora do Ipea.

A economia brasileira passou a crescer baseada no consumo. Como consequência, a desindustrialização precoce impulsionou um aumento de importações, redução na participação do País na exportação de manufaturados para mercados internacionais e perda de dinamismo na geração de emprego industrial.

"Outro problema é que as vagas geradas no setor terciário são na maior parte das vezes informais e precárias", lembrou Renata.

O Ipea apontou ainda que a China, também considerado um país em desenvolvimento, não passou por esse processo de desindustrialização, apesar de ter registrado um aumento do PIB per capita muito maior que o do Brasil.


FONTE: O Estado de São Paulo - http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,desoneracao-da-folha-e-necessaria-para-industria-mas-paliativa-diz-ipea,106174,0.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário