sexta-feira, 18 de maio de 2012

No topo

Com ação a US$ 38, Facebook estreia hoje na Bolsa como a maior empresa de tecnologia do planeta

VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK
LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
 

O Facebook estreia hoje na Nasdaq, a Bolsa de ações de tecnologia em Nova York, como o maior negócio do setor.

Ao fixar a ação em US$ 38 (R$ 76), a empresa fundada por Mark Zuckerberg em um dormitório de Harvard há oito anos deve levantar US$ 16 bilhões e catapultar o valor de mercado para US$ 104 bilhões, patamar próximo ao da Ambev (US$ 109 bilhões).

Não sem riscos. O temor de um êxodo de anunciantes que preferem ter páginas na rede social a pagar por propaganda, a dificuldade nas plataformas móveis e dúvidas sobre como rentabilizar centenas de milhões de usuários impõem incógnitas até mesmo para a empresa.

O valor da ação foi estabelecido no topo do intervalo divulgado pela companhia.

Animados com a atenção mundial que deve fazer desta uma das maiores aberturas de capital da história, acionistas iniciais do Facebook aumentaram seu lote à venda, elevando para 428 milhões os papéis ofertados.

A pergunta é se haverá fôlego para tamanho apetite.

 

Valor do Facebook atinge US$ 104 bilhões

Lançamento de ações da rede social supera o do Google, em 2004, e se torna o maior entre as empresas de internet

Site tem 901 milhões de usuários e vê potencial maior de crescimento em países emergentes, como o Brasil e a Índia

VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK
 

Oito anos depois de ser criado para reunir colegas da Universidade Harvard, o Facebook lança suas ações na Bolsa de Valores hoje e pode atingir valor de mercado de US$ 104 bilhões.

Embora haja dúvidas em relação à capacidade da empresa de repetir as mesmas taxas de crescimento que registrou até agora e de ampliar as fontes de faturamento, o negócio é visto com euforia no mercado financeiro.

O IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) é o décimo maior do mundo nos últimos 25 anos, levando em conta valores corrigidos pela inflação, e o líder entre empresas de internet.

O Facebook superou o Google, que, em 2004, levantou o equivalente hoje a US$ 2 bilhões, o que avaliou a empresa em US$ 28 bilhões (valores atualizados).

O cofundador da rede social, Mark Zuckerberg, 35º homem mais rico do mundo, segundo a "Forbes", levou

US$ 1,1 bilhão na operação e pode subir no ranking. Além disso, continuará a mandar na empresa, com 57,5% do poder de voto e ações que valem US$ 19,1 bilhões.

A abertura de capital também transforma funcionários antigos e investidores iniciais em bilionários.

O brasileiro Eduardo Saverin, um dos cofundadores da rede social, amplia sua fortuna com a operação.

BRASIL

Com 901 milhões de usuários, o Facebook e vê potencial de crescimento principalmente em mercados emergentes, como Brasil e Índia.

O Brasil alcançou a segunda posição na lista dos países com maior número de usuários no Facebook, atrás da Índia, segundo a consultoria SocialBakers.

Os primeiros números entregues à SEC (órgão americano similar à CVM brasileira), em fevereiro, confirmaram que a maioria das receitas do Facebook vem dos anúncios no site e na participação nas vendas de jogos como o FarmVille. Perto de 80% do faturamento vem da publicidade.

A empresa é bastante dependente da Zynga, criadora do FarmVille. O Facebook atribuiu cerca de 23% do faturamento à parceira.

No fim de abril, o Facebook anunciou que o lucro caiu 12% no primeiro trimestre ante o ano anterior.

Mesmo assim, a empresa de Zuckerberg, 28, registrou alta de 45% na receita, para US$ 1,058 bilhão.

A menos de uma semana da estreia na Bolsa, o Facebook teve um revés público, quando a GM informou que deixará de anunciar na rede social por considerar que os anúncios na página têm pouco impacto na decisão de compra dos consumidores.

A montadora tinha contrato anual de US$ 10 milhões. Embora a desistência não impacte o resultado do Facebook, representou um dos poucos sinais de ceticismo entre nos Estados Unidos em relação à rede social.

 

Empresa prevê risco com anúncios, apps e processos

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
 

Quando o Facebook estrear hoje no pregão em Nova York, o investidor vai se deparar com ações de uma empresa que depende essencialmente de anunciantes para lucrar, mas espera perder parte deles ao focar suas forças nas plataformas móveis.

Aos oito anos, a rede social tampouco achou a fórmula para converter em dinheiro seus 901 milhões de usuários ativos, coleciona processos e depende quase exclusivamente de seu fundador, Mark Zuckerberg, para definir seu rumo em um cenário ultracompetitivo.

Riscos como esses e outros não estão só em análises de consultorias nem no ceticismo da concorrência: o próprio Facebook afirma que pode ser "prejudicado significativamente" por eles.

"Nosso negócio está sujeito a inúmeros riscos, e é preciso levá-los em conta cuidadosamente antes de decidir investir", escreve a empresa no documento de registro na SEC, a reguladora americana.

A julgar pelo furor em torno do lançamento, o público parece dar de ombros.

"Essa oferta se tornou tão viral quanto o Facebook em si", disse à Folha Max Wolff, economista-chefe da Greencrest Capital, consultoria focada em internet.

"As ações do Facebook estão sendo vistas como algo que todo mundo tem que ter, como uma página na rede social", afirma. "Isso não condiz com uma avaliação mais rigorosa de mercado."

O paradoxo não surgiu do nada. A revista especializada "Wired" lembra que o site levou oito anos para obter usuários que toda a internet acumulou em 30 anos.

Mas sua perspectiva de crescimento é uma incógnita até para especialistas.

"A questão é se o Facebook pode aumentar sua receita e seu lucro tão rápido quanto aumentou sua oferta pública inicial", afirma Wolff.

Em 2011, foram, respectivamente, US$ 3,7 bilhões (R$ 7,2 bilhões) e US$ 1 bilhão.

Para o analista, a abertura de capital e seus números superlativos -428 milhões de ações à venda e o valor de mercado da empresa catapultado a US$ 105 bilhões (R$ 210 bilhões)- dizem mais sobre o "fenômeno cultural e de mídia" do que sobre o mercado.

O próprio Facebook enfatizou na apresentação à SEC que concentra a receita em duas fontes, anunciantes e aplicativos, sendo que na primeira está 83% de seu ganho.

Ambas são muito vulneráveis ao humor do mercado e a mudanças na própria plataforma e em suas rivais.

"Se não continuarmos a introduzir novos aplicativos ou se os novos não gerarem tanto interesse, nossa performance pode ser afetada", escreve a empresa, notando sua dependência da desenvolvedora de jogos Zynga.

Wolff considera que o teste do sucesso do IPO virá em 190 dias, quando sair o resultado do segundo trimestre.
 

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