segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

De cada cem empresas, 70 abrem sem ter planejamento

Gestão financeira é o "bicho-papão" para quem abre um empreendimento
ANA PAULA PEDROSA E QUEILA ARIADNE
 
Publicado no Jornal OTEMPO em 10/12/2012
 

Mais importante do que abrir um negócio próprio é conseguir mantê-lo. Para a maior parte dos microempreendedores, esse é um desafio enorme, que esbarra na falta de estratégia para o futuro. De cada dez micro ou pequenas empresas de Minas Gerais, sete não têm planejamento para os próximos três anos, aponta estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG).

"O plano de negócios é fundamental para a sobrevivência da empresa", diz o coordenador do MBA em empreendedorismo e desenvolvimento de novos negócios da FGV/IBS, Marcus Quintella. Nesse plano de negócios, estão inclusos desde a identificação de mercado para o produto, até a gestão e o planejamento de investimentos.

A analista de atendimento do Sebrae Minas Viviane Soares afirma que o erro mais clássico, que pode custar a sobrevivência de uma empresa, é a falta de conhecimento em gestão financeira. "E não estou falando só de microempreendedor individual. Não importa o tamanho, o empresário tem que ter controle", destaca.

Segundo Viviane, o maior problema é não separar as contas pessoais das contas da empresa, ou seja, não ter um fluxo de caixa organizado. "O empresário tem que ter em mente que ele é um empregado, mas que o seu salário não são as retiradas que faz toda hora. Ele tem que saber o que a empresa gasta, pois, se precisar cortar despesas, saberá de onde tirar", afirma.

Viviane lembra que o controle financeiro vai interferir diretamente na formação de preço e evitar erros que podem fisgar boa parte do faturamento e gerar prejuízo. "Não é porque o vizinho cobra R$ 5 por algum produto que a pessoa tem que cobrar R$ 4,50 para pegar mais clientes. Tem que saber precificar", alerta.

Sem planejamento e com um problema de saúde, a costureira Adeilda dos Reis, 53, da vila São João Batista, região de Venda Nova, vai encerrar sua atividade formal antes de começar. Ela se cadastrou no microempreendedor individual em março deste ano, mas não chegou a usufruir de nenhum benefício. "Nem comecei", diz ela.

"Quando a pessoa não planeja e não pensa na empresa como um negócio, ela não tem chance nenhuma de crescer. Sem controle financeiro, fica muito difícil, perde-se oportunidade e não se sai do lugar", afirma Viviane. Segundo a analista, não basta ter um produto ou serviço bom. "Se não há visão de futuro, a empresa não sai da mesmice", destaca Viviane.

Estudo
"Aprendi que R$ 0,01 é importante"
Do outro lado da estatística, o artesão Sérgio Sales de Almeida estudou muito antes de abrir sua microempresa na Vila Oeste, onde mora. O negócio de furar pedras semipreciosas para a fabricação de bijuterias foi iniciado há três anos, mas formalizado apenas há nove meses. Almeida aprendeu o ofício na empresa onde trabalhava anteriormente e contou com a ajuda de um amigo formado em administração para aprender a fazer fluxo de caixa, planilha de custos e investir o lucro. "Aprendi que R$ 0,01 é importante. Se for R$ 0,01 por dia, no fim do mês são R$ 0,30 e já dá para comprar um parafuso", diz ele, que planeja crescer com cautela. "Quero dar um passo de cada vez, mas seguro. Não quero andar para trás", diz. (APP)
Minas Gerais tem 10,3% dos micros
De todos os microempreendedores individuais registrados no Brasil em 2012, 10,3% estão em Minas Gerais. O Estado é o terceiro do Brasil, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. Neste ano, até 30 de novembro, 271,26 mil empresas mineiras foram abertas nessa modalidade. No Brasil, foram 2,63 milhões. Pelo menos 473 desses microempresários foram formalizados por meio do programa Empreendedores do Morro, na capital mineira. O Sebrae foi a 14 vilas da região metropolitana de Belo Horizonte para regularizar a atividade de microempresários que, até então, trabalhavam na informalidade. (APP e QA)

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